Intelectual brasileiro, nascido na cidade de Salvador, capital do Estado da Bahia, Edison Carneiro dedicou-se a uma gama bastante vasta de gêneros e temas, dentre os quais merecem destaque, de um lado, seus estudos etnográficos e históricos concernentes à religiosidade e às práticas culturais de matriz africana no Brasil e, de outro, seus trabalhos sobre folclore e cultura popular. Como intelectual comunista e jornalista combativo, ainda na década de 1930, realizou trabalho de campo nos terreiros de candomblé de Salvador, se notabilizando como um de seus principais intérpretes e especialistas.
Em 1937, Carneiro organizou o II Congresso Afro-Brasileiro e ajudou a criar a União das Seitas Afro-Brasileiras, entidade efêmera, porém pioneira no esforço de pleitear a plena liberdade de culto das religiões de matriz africana no país. No Rio de Janeiro, onde se estabeleceu em definitivo a partir de 1939, continuou atuando como jornalista e estudioso da história e da cultura negra no Brasil, sem nunca, contudo, conseguir um posto universitário. A partir dos anos 1950, Edison Carneiro dedicou-se quase que integralmente ao chamado “movimento folclórico brasileiro”, se engajando na Campanha de Defesa do Folclore Nacional, da qual foi seu diretor de 1961 até 1964, quando foi compulsoriamente afastado pela junta militar que assumiu poder por meio de um golpe de estado.
Alguns de seus mais importantes trabalhos foram: Religiões Negras (1936), Negros Bantos (1937), Quilombo dos Palmares(1947) e Candomblés da Bahia (1947), Antologia do Negro Brasileiro (1950), Ladinos e Crioulo (1964) e Dinâmica do Folclore (1965). Ao longo de seus sessenta anos de vida e praticamente quarenta de carreira, Edison Carneiro construiu uma vida e obra decisivamente implicadas no desenvolvimento dos estudos sobre a cultura e o folclore associados à presença negra e africana na sociedade brasileira.
Extraído de Rossi, G. (2020). Uma vocação perdida? Vida e obra de Edison Carneiro, expoente dos estudos afro‑brasileiros.
Para saber mais:
CARNEIRO, E. (1968). O negro como objeto de ciência. Afro-Ásia, 6-7, pp.91-100. PDF
ROSSI, G. (2020). Uma vocação perdida? Vida e obra de Edison Carneiro, expoente dos estudos afro‑brasileiros, in Bérose - Encyclopédie internationale des histoires de l'anthropologie, Paris. Online
Obras
1931. Lixópolis. O Momento. Salvador, 15 de setembro.
1931. Onde Judas perdeu as botas, O Momento, Salvador, 15 de outubro.
1934. As raças oprimidas no Brasil, A Bahia. Salvador, 12 e 13 de outubro.
1935. A situação do negro no Brasil. In: FREYRE, Gilberto (org.). Estudos Afro-Brasileiro: trabalhos apresentados ao 1° Congresso Afro-Brasileiro do Recife. Recife: FUNDAJ/Ed. Massangana.
1935. Exploração do negro. A Manhã. Rio de Janeiro, 14 de novembro.
1940. The Structure of African Cults in Bahia, The Journal of American Folklore, v. 53, n. 210, 271-278. Online
1940. O negro no Brasil: trabalhos apresentados ao 2° Congresso Afro-brasileiro (Bahia). Rio de Janeiro : Civilização Brasileira.
1947. Quilombo dos Palmares. São Paulo: Martins Fontes.
1948. Candomblés da Bahia. Salvador: Publicações do Museu do Estado/Bahia. PDF
1950/1967/2005. Antologia do negro brasileiro. Rio de Janeiro: Agir. PDF
1951. Arthur Ramos: Brazilian Anthropologist (1903-1949), Phylon (1940-1956), v. 12, n. 1. Online
1953/2019. Ladinos e Crioulos. São Paulo: Martins Fontes. PDF
1958. O Quilombo dos Palmares. São Paulo, Companhia Editora Nacional. PDF
1965. Dinâmica do Folclore. São Paulo, Martins Fontes.
1968. O negro como objeto de ciência, Afro-Ásia, n. 6-7. Online
1975. Capoeira. Rio de Janeiro: Funarte. PDF
1980. A lei do ventre-livre. Afro-Ásia, n. 13. Online
1991. Religiões negras/Negros bantos. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira. PDF